Ponto de Partida
Caro estudante, boas-vindas à nossa aula sobre uma das temáticas de extrema relevância atualmente, que está diretamente relacionada ao futuro do nosso planeta: o Antropoceno.
De acordo com o ganhador do Prêmio Nobel de química em 1995, Paul Crutzen, o Antropoceno significa uma nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra, na qual a humanidade se transformou em uma força geológica capaz de alterar as condições de sustentação da vida. Entretanto, esse termo é ainda bastante questionado por muitos cientistas. De fato, nas últimas décadas a economia e o comércio mundial, baseados em uma sociedade de consumo, tiveram um forte crescimento, com melhorias das condições de vida de milhões de pessoas pelo mundo. Mas isso teve um preço: o aumento da poluição, a perda da biodiversidade e o aquecimento global.
Você pode se perguntar: como isso afetará a minha vida?
As crises do Antropoceno vão alterar e desafiar as nossas compreensões de economia e natureza?
Portanto, você, como futuro profissional, a partir desta aula, começa a compreender, questionar e se preparar para os desafios desse novo tempo, ou para muitos, “era geológica”, sobre as nossas atividades econômicas e sociais.
Vamos juntos no estudo dessa instigante e importante temática!
Um grande abraço!
Vamos Começar!
O surgimento do conceito de Antropoceno
O Holoceno é a atual época do período Quaternário da Era Cenozoica, que se iniciou há cerca de 11,65 mil anos antes do presente, após o último período glacial. Tal período se caracterizou por apresentar um clima razoavelmente estável. Esse fato permitiu gradualmente a evolução das atividades humanas, como o desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais, e, consequentemente, mudou o estilo de vida nômade para o sedentário em grande parte da população. Soma-se a isso as migrações humanas, a constituição de sociedades complexas e a criação dos aglomerados urbanos, como vilarejos, vilas e a cidades (Veiga, 2019; Costa, 2022). Dessa forma, o Holoceno se constituiu no período de desenvolvimento do homem e de seus atributos na Terra.
Para um número significativo de cientistas, esse período se esgotou e estamos vivendo o início de um novo período geológico: o Antropoceno. Esse termo foi cunhado pelo biólogo Eugene F. Stoermer, em 1980, e significa antropo (homem) + ceno (novo) (Veiga, 2019). Já a hipótese de um novo tempo geológico foi levantada originalmente pelo cientista Paul Crutzen, ganhador do Prêmio Nobel de Química, em 1995, o qual, durante uma reunião do Programa Internacional de Geosfera-Biosfera (IGBP), no ano de 2000, sugeriu o uso do termo para representar o atual tempo geológico e explica: “Eu estava em uma conferência e alguém mencionou o Holoceno. De repente, pensei que esse termo era incorreto. O mundo tinha mudado muito. Eu disse não, estamos no Antropoceno”. Para ambos os cientistas, o uso do termo Antropoceno é o mais adequado para “[...] enfatizar o papel central da humanidade na geologia e na ecologia” (Crutzen; Stoermer, 2000, p. 17).
O que identifica o Antropoceno são as profundas transformações das atividades humanas sobre os processos de regulação biofísicos do planeta. Isto é, o homem passou a ser uma força geológica capaz de modificar as condições estruturantes do sistema terrestre. Portanto, Antropoceno significa a época da dominação humana sobre o planeta (Alves, 2020).
Não há consenso sobre o início do Antropoceno. Alguns artigos abrangem desde o início da agricultura até os eventos relacionados ao período histórico, informalmente reconhecido como a Grande Aceleração, mas alguns especialistas escolheram uma data simbólica como marco temporal: o ano de 1784, data do aperfeiçoamento da máquina a vapor por James Watt. Esse é o período que marca o início do uso intensivo de combustíveis fósseis (no caso o carvão), o início da Revolução Industrial e do sistema de produção capitalista.
Um exemplo imediato de todo o impacto ocasionado pela população humana no planeta é a questão demográfica: em 1800, a população mundial era de 1 bilhão de pessoas; hoje somos 8 bilhões e as estimativas falam em 10 bilhões no ano de 2050. Esse aumento esteve ligado à urbanização, que se intensificou nos últimos 200 anos, ou seja, o mundo se tornou urbano, com mais de 50% da população mundial vivendo em cidades. No Brasil, por exemplo, esses índices são superiores a 80% da população (Ipea, 2014). E para atender essa crescente demanda, aumentou-se a pressão na extração de recursos naturais, na ascensão de uma agricultura industrial, no desmatamento de florestas tropicais e na consequente perda de biodiversidade. Da mesma forma, entre os problemas ocasionados estão a poluição em todos os sistemas planetários – ar, oceanos, solo etc. –, e a configuração de sociedades com desigualdades socioeconômicas em nível global.
A expressão Antropoceno é objeto de questionamentos. O geógrafo norte-americano Jason Moore prefere o vocábulo Capitoloceno porque, segundo ele, não é possível atribuir à espécie humana a condição de força geológica, mas sim ao sistema capitalista que, por seu caráter expansionista, é o causador da mudança de era geológica (Moore, 2016). Outros usam o termo Ocidentaloceno, porque a responsabilidade pelos desdobramentos atuais é dos países ricos do Norte Global, e esses não podem ser atribuídos às nações mais pobres (Unesco, 2018; Costa, 2022); ou ainda Tecnoceno, porque as mudanças em curso e suas consequências ocorreram a partir do desenvolvimento tecnológico e têm o poder de alcançar todas as condições de vida para as gerações futuras (Costa, 2021).
Apesar dos questionamentos, a expressão Antropoceno se popularizou e tornou-se não só a designação de um novo tempo geológico, mas também uma metáfora dos novos tempos em curso. Em uma ou em outra perspectiva, o Antropoceno traz a discussão a respeito dos limites de um planeta finito, tanto de espaço quanto de recursos naturais. Além disso, se os sistemas econômicos e sociais continuarem na mesma sistemática, passaremos de um cenário de crise para uma provável e desafiadora emergência ecológica, afetando a vida como um todo.
Siga em Frente...
O Antropoceno e as crises contemporâneas
Os problemas relacionados ao desequilíbrio no uso dos recursos naturais e no aumento da poluição puderam ser facilmente observados a partir de 1950, em que um novo e perigoso estágio intensificou os efeitos antropogênicos sobre o sistema Terra, que os cientistas têm denominado a Grande Aceleração. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, época de significativa expansão das atividades econômicas, baseada em uma sociedade de consumo, o uso de combustíveis fósseis foi responsável por recordes sucessivos na emissão de gases antropogênicos. Para exemplificar, nos últimos 50 (cinquenta) anos, a economia mundial multiplicou-se por quase quatro vezes, enquanto o comércio global aumentou em 10 (dez) vezes (IPBES, 2019). Para contemplar as demandas desse crescimento econômico, nós, seres humanos, passamos a exercer uma pressão excessiva sobre os ciclos de regulação do planeta com o aumento da poluição, os desmatamentos, a perda de biodiversidade e a acidificação de oceanos, dentre outros fatores.
Alguns estudos científicos nos ajudam a compreender os desafios impostos pela Grande Aceleração das últimas décadas. O relatório A Avaliação Global da Natureza, lançado em 2019 pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), é a mais extensa análise da perda da biodiversidade no planeta e afirma que “[...] o ritmo das mudanças globais na natureza nos últimos 50 (cinquenta) anos não tem precedentes na história” (IPBES, 2019, p. 12). Além disso, o documento apresenta outros dados alarmantes, alguns destacados na sequência: a) 75% da superfície da Terra já sofreu alterações consideráveis e já se perdeu mais de 85% de áreas de zonas úmidas; b) 66% da superfície dos oceanos estão experimentando efeitos crescentes de deterioração; c) Em média, cerca de 25% das espécies em grupos de animais e plantas estão ameaçados, o que sugere que cerca de um milhão de espécies já estão em perigo de extinção, muitas em apenas algumas décadas; d) Em 2016, 559 das 6.190 raças de mamíferos domesticados usados para alimentação e agricultura (mais de 9%) foram extintas e pelo menos 1.000 outras foram ameaçadas de extinção.
O relatório Planeta Vivo, do ano de 2020, elaborado pela entidade WWF, traz os mesmos dados sobre a perda da biodiversidade, e indica que os fatores responsáveis por essa perda são: o uso da terra, com a conversão de áreas intocadas em setores agrícolas, e, no caso dos oceanos, o aumento excessivo da pesca. O ponto fundamental do relatório é que “a perda de biodiversidade não é apenas um problema ambiental. Ela também afeta o desenvolvimento, a economia, a segurança global, a ética e a moral” (WWF, 2020). Recentemente um novo relatório do IPBES (2022) alertou que cerca de um milhão de espécies da fauna e da flora estão ameaçadas de extinção.
Esse conjunto de dados traz uma constatação fundamental: a necessidade de estabelecer limites planetários, em uma perspectiva que permita conjugar as atividades socioeconômicas de nossas sociedades com a capacidade suporte do planeta. Para tanto, será necessário compreender quais são os limites planetários.
Diante disso, um estudo liderado pela equipe do cientista sueco Johan Rockström, do Centro de Resiliência de Estocolmo, caracterizou os nove processos que regulam a estabilidade e a resiliência do planeta, estabelecendo os limites para o que é denominado “espaço operacional seguro para a humanidade”, isto é, em que é possível a manutenção das atividades sem colocar em risco a vida terrestre (Veiga, 2019; Costa, 2022).
Os nove processos que precisam ser regulados para a garantia da estabilidade planetária podem ser observados na Figura 1 (Veiga, 2019; Costa, 2022):
Na Figura 1, podemos visualizar que a parte em verde são as chamadas zonas seguras, em que temos o espaço operacional seguro; em laranja, as zonas de risco crescente, com alto potencial de efeitos prejudiciais; e em vermelho, as zonas de risco alto, nas quais os limites foram ultrapassados e estamos sujeitos a consequências imprevisíveis. Percebemos que a humanidade já ultrapassou quatro dos limites estabelecidos: mudanças climáticas; integridade da biosfera (perda de biodiversidade); fluxos bioquímicos de nitrogênio e fósforo; e, mais recentemente, as mudanças no uso da terra (solo). Esses são desafios que estão postos no tabuleiro global, a demandar a atuação de todas as instituições internacionais e nacionais. Nota-se, assim, que a observância dos limites planetários é uma das exigências para que as crises provocadas pela Grande Aceleração não conduzam o sistema Terra a uma situação de irreversibilidade.
Os principais efeitos do Antropoceno nas dinâmicas econômica e social
Diante desse cenário, para o enfrentamento das questões que se apresentam no Antropoceno, é imprescindível repensar os meios de produção e os padrões de consumo em sociedade, que afetam decisivamente os processos ambientais e, por consequência, as dinâmicas de regulação do sistema Terra. Se, em sentido amplo, é essencial uma conjugação de políticas e estratégias por diversos atores globais – instituições governamentais, setores empresariais e organismos multilaterais –, na escala da proximidade (quotidiano) é preciso destacar o exercício de uma ética da responsabilidade, por meio da conscientização ecológica para a compreensão da finitude dos recursos naturais e o repensar das relações de consumo. Não há dúvidas de que dispomos de tecnologias cada vez mais avançadas e que podem ser muito importantes no contexto das crises. Mas as tecnologias, sem a mudança de consciência pública e individual, e sem a percepção do próprio ser humano de que ele e natureza constituem um todo, podem não ser suficientes para lidar com a questão demográfica e o aumento da poluição (Odum, 2001).
Um dos intentos que contribui no processo de tomada de consciência é um indicador criado que nos permite conhecer os impactos das nossas atividades sobre o planeta. Trata-se do conceito de pegada ecológica – elaborado pela entidade Global Footprint Network – que é uma unidade métrica que estabelece uma equação entre a demanda de recursos utilizados por pessoas, empresas e governos e a capacidade de regeneração biológica do planeta. A pegada ecológica mede o quanto de área de terra (hectares) e água são requeridos para o consumo e para a absorção dos resíduos sólidos gerados (WWF, 2020).
Muitos países estão em situação de déficit ecológico, isto é, usam mais recursos naturais – pegada ecológica – que seus ecossistemas podem regenerar – biocapacidade – como é o caso dos Estados Unidos, China, Índia, Israel, Japão e a União Europeia. Com o aumento desse déficit em nível global, temos o que é chamado de “capacidade de carga” do planeta, que é a sobrecarga no consumo de seus recursos. Desde a década de 1970, a capacidade de carga do planeta tem sido ultrapassada com sérios riscos para a dinâmica ambiental. Uma das representações usadas para demonstrar o limite da capacidade de carga do planeta é determinar o dia em que ele ocorre em cada ano. No ano de 2022, ela foi atingida no dia 28 de julho (WWF, 2022). A partir de então, estamos em déficit. Em uma analogia, entramos no “vermelho”, consumindo mais do que o planeta pode suportar. Por esse parâmetro, para atender aos níveis de utilização dos recursos ambientais atuais, é demandado o equivalente a 1,75 do planeta (WWF, 2022). No caso do Brasil, a capacidade de carga foi atingida em 12 de agosto de 2022 (WWF, 2022). Isso se dá, em boa medida, pelo aumento do desmatamento na Floresta Amazônica e das queimadas nesse e em outros biomas brasileiros, como o Cerrado e o Pantanal.
De tudo que foi estudado, é necessário compreender que a era do Antropoceno é uma realidade e que devemos estar preparados para o enfrentamento de seus efeitos em nossas atividades econômicas e cotidianas. Ainda que a atuação no nível individual ou de pequenos grupos seja restrita, isso não é um obstáculo para que possamos compreender o imperativo do exercício da ética da responsabilidade em todos os campos da atividade humana, tanto profissional quanto cidadã, porque não há dissociação entre eles. Afinal, o que está em risco é a construção da sociedade e dos predicados da vida. Esse é o desafio do nosso tempo.
Vamos Exercitar?
Conforme discutido anteriormente, o termo Antropoceno, refere-se a uma nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra, em que a humanidade se transformou em uma força geológica capaz de alterar as condições de sustentação da vida.
E agora, você, como futuro profissional, começa a compreender, questionar e se preparar para os desafios desse novo tempo. Para auxiliar esse avanço, vamos elucidar algumas questões importantes sobre essa temática:
- a qual deu início ao uso generalizado de combustíveis fósseis (carvão mineral) e à produção em massa de mercadorias e meios de subsistência. Como consequência, houve uma rápida expansão das atividades antrópicas. Todo esse processo expansionista gerou efeitos incomparáveis: em 250 anos, a economia global cresceu 135 vezes, a população mundial cresceu 9,2 vezes e a renda per capita cresceu 15 vezes. Esse crescimento demoeconômico foi maior do que o de todo o período dos 200 mil anos anteriores, desde o surgimento do Homo sapiens.
Entretanto, todo esse avanço gerou consequências extremamente negativas ao meio ambiente. Nossas atividades ultrapassaram a capacidade de carga da Terra, e a Pegada Ecológica da humanidade extrapolou a biocapacidade do planeta. Tal cenário ainda não parece mudar. A cada dia, a dívida do ser humano com a natureza continuação a crescer e a degradação ambiental pode, no limite, destruir a base ecológica que sustenta a economia e a sobrevivência humana.
Saiba mais
Nesta aula discutimos a hipótese do Antropoceno. Sob esse contexto, é proposto que as atividades humanas alteraram consideravelmente a dinâmica do planeta, configurando uma nova época geológica. Para auxiliar na compreensão das definições do Antropoceno, leia o artigo O que é o Antropoceno e por que esta teoria científica responsabiliza a humanidade.
Além disso, podemos compreender que o avanço das atividades humanas está alterando drasticamente a dinâmica no planeta. Entre os pontos destacados, está o aquecimento global, aumento da temperatura média dos oceanos e da camada de ar próxima à superfície da Terra, que pode ser consequência de causas naturais e atividades humanas. Para saber mais sobre essa temática, leia a matéria As Mudanças Climáticas, e Antropoceno: a era do colapso ambiental, e entenda quais os principais fatores associados às mudanças climáticas e ao aquecimento global.
Outro ponto de relevância que abordamos nesta aula é uma das principais métricas para conhecer e compreender o impacto das nossas atividades no planeta, a Pegada Ecológica. Mas será que você sabe qual é a sua pegada? Para conhecê-la, acesse Pegada Ecológica e faça o teste usando a calculadora da contabilidade ambiental, que reflete as nossas condutas sobre o planeta. Além de interessante, o resultado nos ajudará a compreender a nossa responsabilidade no Antropoceno.
Referências
ALVES, J. E. D. Antropoceno: a era do colapso ambiental. Disponível em: https://cee.fiocruz.br/?q=node/1106. Acesso em: 17 out. 2023.
COSTA, A. Antropoceno: desmandamentos gravados em rocha. In: Os mil nomes de Gaia: do Antropoceno à idade da terra, v. 1. Rio: Machado, 2023.
COSTA, F. Tecnoceno: algoritmos, biohackers y nuevas formas de vida. Buenos Aires: Taurus, 2021.
CRUTZEN, P.; STOERMER, E. The “Anthropocene”. Global Change Newsletter, v. 41, 2000, p. 17-18.
DIA de sobrecarga da terra. WWF. Disponível em: https://www.wwf.org.br/overshootday/. Acesso em: 17 out. 2023.
IPBES. Resumo para formuladores de políticas do relatório de avaliação global sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos da plataforma intergovernamental de políticas científicas sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos. Bonn: IPBES Secretariat, 2019. Disponível em: https://ipbes.net/assessment-reports/americas. Acesso em: 17 out. 2023.
IPEA. Um exame dos padrões de crescimento das cidades brasileiras. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_1155.pdf. Acesso em: 17 out. 2023.
GLOBAL FOOTPRINT NETWORK. Ecological footprint per person. In: National footprint and biocapacity accounts 2022 edition. Disponível em: https://data.footprintnetwork.org/#/. Acesso em: 17 out. 2023.
MOORE, J. W. Anthropocene or capitalocene? Nature, History, and the Crisis of Capitalism. Los Angeles: Kairos, 2016.
ODUM, E. P. Fundamentos de ecologia. 6. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.
O QUE é o Antropoceno e por que esta teoria científica responsabiliza a humanidade? National Geographic Brasil, jan. 2023. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2023/01/o-que-e-o-antropoceno-e-por-que-esta-teoria-cientifica-responsabiliza-a-humanidade
UNESCO. Correio da Unesco: um glossário para o antropoceno. In: Bem-vindo ao Antropoceno, v. 2, abr.-jun., 2018. Disponível em: https://pt.unesco.org/courier/2018- 2/um-glossario-o-antropoceno. Acesso em: 17 out. 2023.
VEIGA, J. E. da. O Antropoceno e a ciência do sistema terra. São Paulo: Editora 34, 2019.
WWF. Índice planeta vivo 2020: reversão da curva de perda de biodiversidade. In: Almond, R. E.; Grooten, M.; Petersen, T. (eds.) Gland: WWF, 2020. Disponível em: https://f.hubspotusercontent20.net/hubfs/4783129/LPR/PDFs/Brazil%20FINAL%20summary.pdf. Acesso em: 17 out. 2023.

Disciplina
Unidade 1 Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet.
Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro ssional. Vamos assisti-la? Clique aqui para acessar os slides da sua videoaula. Bons estudos!
Ponto de Partida
Caro estudante, boas-vindas à nossa aula sobre uma das temáticas de extrema relevância atualmente, que está diretamente relacionada ao futuro do nosso planeta: o Antropoceno. De acordo com o ganhador do Prêmio Nobel de química em 1995, Paul Crutzen, o Antropoceno signi ca uma nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra, na qual a humanidade se transformou em uma força geológica capaz de alterar as condições de sustentação da vida. Entretanto, esse termo é ainda bastante questionado por muitos cientistas. De fato, nas últimas décadas a economia e o comércio mundial, baseados em uma sociedade de consumo, tiveram um forte crescimento, com melhorias das condições de vida de milhões de pessoas pelo mundo. Mas isso teve um preço: o aumento da poluição, a perda da biodiversidade e o aquecimento global.
Disciplina
RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL
Você pode se perguntar: como isso afetará a minha vida?
As crises do Antropoceno vão alterar e desa ar as nossas compreensões de economia e natureza?
Portanto, você, como futuro pro ssional, a partir desta aula, começa a compreender, questionar e se preparar para os desaos desse novo tempo, ou para muitos, “era geológica”, sobre as nossas atividades econômicas e sociais.
Vamos juntos no estudo dessa instigante e importante temática!
Um grande abraço!
Vamos Começar!
O surgimento do conceito de Antropoceno
O Holoceno é a atual época do período Quaternário da Era Cenozoica, que se iniciou há cerca de 11,65 mil anos antes do presente, após o último período glacial. Tal período se caracterizou por apresentar um clima razoavelmente estável. Esse fato permitiu gradualmente a evolução das atividades humanas, como o desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais, e, consequentemente, mudou o estilo de vida nômade para o sedentário em grande parte da população. Soma-se a isso as migrações humanas, a constituição de sociedades complexas e a criação dos aglomerados urbanos, como vilarejos, vilas e a cidades (Veiga, 2019; Costa, 2022). Dessa forma, o Holoceno se constituiu no período de desenvolvimento do homem e de seus atributos na Terra.
Para um número signicativo de cientistas, esse período se esgotou e estamos vivendo o início de um novo período geológico: o Antropoceno. Esse termo foi cunhado pelo biólogo Stoermer, em 1980, e signi ca antropo (homem) + ceno (novo) Eugene F. (Veiga, 2019) . Já a hipótese de um novo tempo geológico foi levantada originalmente pelo cientista Paul Crutzen, ganhador do Prêmio Nobel de Química, em 1995, o qual, durante uma reunião do Programa Internacional de Geosfera-Biosfera (IGBP), no ano de 2000, sugeriu o uso do termo para representar o atual tempo geológico e explica: “Eu estava em uma conferência e alguém mencionou o Holoceno. De repente, pensei que esse termo era incorreto. O mundo tinha mudado muito. Eu disse não, estamos no Antropoceno”. Para ambos os cientistas, o uso do termo Antropoceno é o mais adequado para “[...] enfatizar o papel central da humanidade na geologia e na ecologia” (Crutzen; Stoermer, 2000, p. 17).
O que identica o Antropoceno são as profundas transformações das atividades humanas sobre os processos de regulação biofísicos do planeta. Isto é, o homem passou a ser uma força
Disciplina
RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL
geológica capaz de modi car as condições estruturantes do sistema terrestre. Portanto, Antropoceno signi ca a época da dominação humana sobre o planeta (Alves, 2020).
Não há consenso sobre o início do Antropoceno. Alguns artigos abrangem desde o início da agricultura até os eventos relacionados ao período histórico, informalmente reconhecido como a Grande Aceleração, mas alguns especialistas escolheram uma data simbólica como marco temporal: o ano de 1784, data do aperfeiçoamento da máquina a vapor por James Watt. Esse é o período que marca o início do uso intensivo de combustíveis fósseis (no caso o carvão), o início da Revolução Industrial e do sistema de produção capitalista.
Um exemplo imediato de todo o impacto ocasionado pela população humana no planeta é a questão demográ ca: em 1800, a população mundial era de 1 bilhão de pessoas; hoje somos 8 bilhões e as estimativas falam em 10 bilhões no ano de 2050. Esse aumento esteve ligado à urbanização, que se intensi cou nos últimos 200 anos, ou seja, o mundo se tornou urbano, com mais de 50% da população mundial vivendo em cidades. No Brasil, por exemplo, esses índices são superiores a 80% da população (Ipea, 2014). E para atender essa crescente demanda, aumentou-se a pressão na extração de recursos naturais, na ascensão de uma agricultura industrial, no desmatamento de orestas tropicais e na consequente perda de biodiversidade. Da mesma forma, entre os problemas ocasionados estão a poluição em todos os sistemas planetários – ar, oceanos, solo etc. –, e a conguração de sociedades com desigualdades socioeconômicas em nível global.
A expressão Antropoceno é objeto de questionamentos. O geógrafo norte-americano Jason Moore prefere o vocábulo Capitoloceno porque, segundo ele, não é possível atribuir à espécie humana a condição de força geológica, mas sim ao sistema capitalista que, por seu caráter expansionista, é o causador da mudança de era geológica (Moore, 2016). Outros usam o termo Ocidentaloceno, porque a responsabilidade pelos desdobramentos atuais é dos países ricos do Norte Global, e esses não podem ser atribuídos às nações mais pobres (Unesco, 2018; Costa, 2022); ou ainda Tecnoceno, porque as mudanças em curso e suas consequências ocorreram a partir do desenvolvimento tecnológico e têm o poder de alcançar todas as condições de vida para as gerações futuras (Costa, 2021).
Apesar dos questionamentos, a expressão Antropoceno se popularizou e tornou-se não só a designação de um novo tempo geológico, mas também uma metáfora dos novos tempos em curso. Em uma ou em outra perspectiva, o Antropoceno traz a discussão a respeito dos limites de um planeta nito, tanto de espaço quanto de recursos naturais. Além disso, se os sistemas econômicos e sociais continuarem na mesma sistemática, passaremos de um cenário de crise para uma provável e desa adora emergência ecológica, afetando a vida como um todo.
Siga em Frente...
O Antropoceno e as crises contemporâneas
Disciplina
RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL
Os problemas relacionados ao desequilíbrio no uso dos recursos naturais e no aumento da poluição puderam ser facilmente observados a partir de 1950, em que um novo e perigoso estágio intensi cou os efeitos antropogênicos sobre o sistema Terra, que os cientistas têm denominado a Grande Aceleração. Com o m da Segunda Guerra Mundial, época de signi cativa expansão das atividades econômicas, baseada em uma sociedade de consumo, o uso de combustíveis fósseis foi responsável por recordes sucessivos na emissão de gases antropogênicos. Para exempli car, nos últimos 50 (cinquenta) anos, a economia mundial multiplicou-se por quase quatro vezes, enquanto o comércio global aumentou em 10 (dez) vezes (IPBES, 2019). Para contemplar as demandas desse crescimento econômico, nós, seres humanos, passamos a exercer uma pressão excessiva sobre os ciclos de regulação do planeta com o aumento da poluição, os desmatamentos, a perda de biodiversidade e a acidi cação de oceanos, dentre outros fatores.
Alguns estudos cientí cos nos ajudam a compreender os desaos impostos pela Grande Aceleração das últimas décadas. O relatório A Avaliação Global da Natureza, lançado em 2019 pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), é a mais extensa análise da perda da biodiversidade no planeta e a rma que “[...] o ritmo das mudanças globais na natureza nos últimos 50 (cinquenta) anos não tem precedentes na história” (IPBES, 2019, p. 12). Além disso, o documento apresenta outros dados alarmantes, alguns destacados na sequência: a) 75% da superfície da Terra já sofreu alterações consideráveis e já se perdeu mais de 85% de áreas de zonas úmidas; b) 66% da superfície dos oceanos estão experimentando efeitos crescentes de deterioração; c) Em média, cerca de 25% das espécies em grupos de animais e plantas estão ameaçados, o que sugere que cerca de um milhão de espécies já estão em perigo de extinção, muitas em apenas algumas décadas; d) Em 2016, 559 das 6.190 raças de mamíferos domesticados usados para alimentação e agricultura (mais de 9%) foram extintas e pelo menos 1.000 outras foram ameaçadas de extinção.
O relatório Planeta Vivo, do ano de 2020, elaborado pela entidade WWF, traz os mesmos dados sobre a perda da biodiversidade, e indica que os fatores responsáveis por essa perda são: o uso da terra, com a conversão de áreas intocadas em setores agrícolas, e, no caso dos oceanos, o aumento excessivo da pesca. O ponto fundamental do relatório é que “a perda de biodiversidade não é apenas um problema ambiental. Ela também afeta o desenvolvimento, a economia, a segurança global, a ética e a moral” (WWF, 2020). Recentemente um novo relatório do IPBES (2022) alertou que cerca de um milhão de espécies da fauna e da ora estão ameaçadas de extinção.
Esse conjunto de dados traz uma constatação fundamental: a necessidade de estabelecer limites planetários, em uma perspectiva que permita conjugar as atividades socioeconômicas de nossas sociedades com a capacidade suporte do planeta. Para tanto, será necessário compreender quais são os limites planetários.
Diante disso, um estudo liderado pela equipe do cientista sueco Johan Rockström, do Centro de Resiliência de Estocolmo, caracterizou os nove processos que regulam a estabilidade e a resiliência do planeta, estabelecendo os limites para o que é denominado “espaço operacional
Disciplina
RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL
seguro para a humanidade”, isto é, em que é possível a manutenção das atividades sem colocar em risco a vida terrestre (Veiga, 2019; Costa, 2022).
Os nove processos que precisam ser regulados para a garantia da estabilidade planetária podem ser observados na Figura 1 (Veiga, 2019; Costa, 2022):
Disciplina
RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL
Figura 1 | Os 9 limites planetários.

Nove limites mantêm equilíbrio da Terra; veja 4 já ultrapassados

- Ana Pais (@_anapais)
- BBC News Mundo
Há cerca de 11 mil anos, algo sem precedentes nos últimos 100 mil anos de história da Terra aconteceu: o clima do planeta tornou-se estável.
Esta era geológica, com temperaturas previsíveis, foi batizada de Holoceno e permitiu à humanidade desenvolver a agricultura, domesticar animais e basicamente criar o mundo moderno no qual vivemos hoje.
Porém, nesse processo também extinguimos espécies e danificamos ecossistemas, poluímos o ar, a água e o solo e ainda desencadeamos a crise das mudanças climáticas.
Em outras palavras, forçamos a entrada no Antropoceno, a era geológica atual em que os humanos são os principais responsáveis pelas mudanças no planeta.
É neste contexto que um grupo internacional de cientistas, liderado pelo sueco Johan Rockström, do Centro de Resiliência de Estocolmo, começou a investigar o risco que corremos ao quebrar o equilíbrio natural e a capacidade de resiliência da Terra.
Seu influente estudo, publicado em 2009, definiu nove limites ou parâmetros interconectados que são essenciais para manter a estabilidade do planeta.

"Cada um desses aspectos é muito relevante individualmente, mas também é muito importante vê-los como um todo", diz Arne Tobian, pesquisador do centro, à BBC News Mundo.
Além da identificação destes nove processos, os peritos definiram medidas quantitativas muito específicas para cada um deles. Os especialistas delimitaram uma área de atuação segura e uma área de risco, que por sua vez está a crescer em perigo.
Se não cruzarmos essas fronteiras, dizem eles, a humanidade poderá prosperar por gerações.
Os resultados desse estudo colossal foram levados às telas em um documentário recente da Netflix chamado "A Terra no Limite: A Ciência do Nosso Planeta" e tornou-se especialmente relevante no âmbito da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), cujo objetivo é fazer com que o mundo aja rapidamente diante de uma crise que se conhece há décadas e cuja margem de ação é cada vez menor.

OS 9 LIMITES DO PLANETA
Dos nove limites planetários, já cruzamos quatro (os quatro primeiros listados abaixo), há três dentro da zona de segurança (por enquanto) e dois ainda são uma grande incógnita.
1. Mudanças climáticas
Um dos quatro limites que já ultrapassamos é talvez o mais conhecido de todos: as mudanças climáticas.
Desde a Revolução Industrial, a temperatura global aumentou 1,1°C. Esse aumento é responsável pelos eventos climáticos extremos que ocorrem com frequência crescente em todo o mundo, como secas e inundações.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), hoje temos cinco vezes mais desastres meteorológicos do que em 1970 e eles provocam custos sete vezes maiores do que naquela época. As consequências são mais devastação e mais mortes.
A comunidade científica afirma que, para evitar que as consequências das mudanças climáticas sejam ainda piores, é necessário que o aumento da temperatura fique em torno de 1,5ºC.

Porém, se continuarmos como estamos hoje, até o final deste século, o aumento pode chegar a 4,4°C, o que seria catastrófico.
"O drama é que o desafio da mudança climática pode ser o mais fácil (de resolver), se considerarmos o desafio do desenvolvimento sustentável em conjunto", disse Rockström, ao apresentar seu estudo em uma palestra TED em 2010.
Como se não bastasse, a mudança climática é um dos dois limites planetários considerados centrais por sua influência em todo o sistema.
2. Integridade da biosfera
A integridade da biosfera, ou seja, a perda da biodiversidade e a extinção de espécies, é outro dos limites centrais.
Porém, ao contrário das mudanças climáticas, esse processo já ultrapassou a zona de risco crescente e está diretamente na zona de alto risco. Isso aumenta as chances de gerar mudanças ambientais irreversíveis em grande escala.
Excedemos tanto esse limite que alguns pesquisadores acreditam que estamos no meio da sexta extinção em massa da história do planeta.
Para ter uma ideia, as extinções em massa foram períodos em que 60 a 95% das espécies foram exterminadas.

No documentário da Netflix, Rockström diz que não deveríamos perder nenhuma biodiversidade e espécies no próximo ano.
O desafio é monumental, se levarmos em conta que, atualmente, das 8 milhões de espécies de animais e plantas que habitam o planeta, 1 milhão estão sob risco de extinção.
No entanto, é um esforço necessário: ter ecossistemas saudáveis nos proporciona ar puro, solos férteis, água doce, plantações polinizadas, matéria-prima para novos medicamentos e muito mais.
3. Mudança de uso do solo
O uso do solo é outro dos limites que ultrapassamos e consiste na transformação de florestas, pastagens, pântanos, tundras e outros tipos de vegetação, principalmente em terras para agricultura e pecuária.
O desmatamento, por exemplo, tem um impacto enorme na capacidade de o clima se regular. Algo que os especialistas repetem sempre quando há incêndios na Amazônia.
Mas a mudança no uso da terra também é um dos impulsionadores de graves declínios na biodiversidade, principalmente por causa da crescente demanda por terras para a produção de alimentos.
Na verdade, um dos desafios de sustentabilidade de hoje é como alimentar os quase 8 bilhões de pessoas que vivem no planeta (e os mais 2 bilhões que estarão em 2050), sem tirar mais espaço da natureza.
4. Fluxos bioquímicos
A quarta e última fronteira, já ultrapassada, é a dos fluxos bioquímicos, que engloba principalmente os ciclos do fósforo e nitrogênio.

Embora ambos os elementos sejam essenciais para o crescimento das plantas, seu uso excessivo em fertilizantes as coloca em uma zona de risco.
Um dos problemas que isso gera é que parte do fósforo e do nitrogênio aplicados às plantações são levados para o mar, onde empurram os sistemas aquáticos para cruzar seus próprios limites ecológicos.
5. Destruição do ozônio estratosférico
Dos nove processos, há apenas um no qual a humanidade agiu com sucesso ao ver os sinais de alerta: a redução do ozônio na estratosfera.
Mais de 30 anos atrás, o mundo inteiro concordou em banir os clorofluorcarbonos (CFCs), substâncias químicas que estavam causando um "buraco" na camada de ozônio.
As consequências da perda dessa camada de proteção vão desde a multiplicação dos casos de câncer de pele até danos ambientais irreversíveis.

Depois do famoso Protocolo de Montreal, o ozônio estratosférico vem se recuperando, o que hoje nos permite ficar calmos dentro da zona segura para esse processo.
6. Uso da água doce
Embora o uso de água doce esteja atualmente dentro da área de ação segura, estamos avançando rapidamente em direção à zona de risco, diz Rockström no documentário.
A Terra pode ser vista como um ponto azul a partir do espaço, mas apenas 2,5% da é água doce. Esse percentual está diminuindo principalmente devido à já mencionada pressão crescente da agricultura para produzir cada vez mais alimentos.
É importante destacar que, embora a dessalinização seja possível, ela consome muita energia que, em geral, vem dos mesmos combustíveis fósseis que contribuem para as mudanças climáticas. Como se não bastasse, esse processo é fonte de contaminação dos ecossistemas costeiros.
7. Acidificação do oceano
Com a acidificação do oceano, acontece algo semelhante ao impacto na água doce: o limite ainda não foi ultrapassado, mas estamos perigosamente próximos.

O problema é que seus efeitos ficam justamente escondidos sob a água, por exemplo, com a morte de corais.
Esse processo em particular apresenta uma camada extra de risco, já que várias das extinções em massa na história tiveram a acidificação dos oceanos como um gatilho.
Nos últimos 200 anos, a água do oceano tornou-se 30% mais ácida, uma taxa de transformação química 100 vezes mais rápida do que a registrada nos últimos 55 milhões de anos.
Esse limite está tão intimamente ligado à mudança climática que costuma ser chamado de seu "gêmeo do mal".
A boa notícia é que, se as metas de mudanças climáticas ratificadas na COP26 forem cumpridas, o pH do oceano será mantido sob controle.
8. Carregamento de aerossóis atmosféricos
Ainda há dois limites para mencionar que não estão em nenhum dos lados da fronteira. E que os cientistas não sabem como medi-los.
"Não existe uma linha de base dos últimos 11 mil anos para esses processos, porque eles são novos", explica Tobian.

Uma delas é a contaminação da atmosfera com aerossóis de origem humana, ou seja, partículas microscópicas geradas principalmente pela queima de combustíveis fósseis, mas também por outras atividades, como incêndios florestais.
Esses aerossóis afetam tanto o clima (por exemplo, causam mudanças nos sistemas de monções em regiões tropicais), assim como os organismos vivos (cerca de 800 mil pessoas morrem prematuramente todo ano por respirarem ar altamente poluído).
9. Incorporação de novas entidades
O nono e último processo é a incorporação das chamadas "novas entidades".
Trata-se de elementos ou organismos modificados por humanos, assim como substâncias totalmente novas. Isso inclui uma lista de centenas de milhares de entidades que variam de materiais radioativos até microplásticos.
Mas talvez o melhor exemplo sejam os CFCs, ou seja, aquelas substâncias químicas que foram proibidas para salvar a camada de ozônio estratosférica..

A esperança como ação
O trabalho do Centro de Resiliência de Estocolmo não apenas alerta sobre as questões centrais que afetam o planeta. Também dá esperança.
"Sabemos qual é o problema e, ao mesmo tempo, sabemos quais seriam as possíveis soluções. Temos isso em mãos", disse Tobian à BBC Mundo.
O desafio é grande: nesta década que termina em 2030, a humanidade deve passar por uma transformação massiva.
No entanto, os cientistas dizem que é possível fazer isso com segurança.
São necessárias ações rápidas e audaciosas por parte de todos os governos do mundo, começando com o uso de energia renovável.
"Nosso vício em combustíveis fósseis está levando a humanidade ao limite", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, esta semana na COP26.
"Chega de queimar, perfurar e cavar mais fundo. Estamos cavando nossa própria sepultura", acrescentou.

Ele assegurou ainda que "os países do G20 têm uma responsabilidade especial, visto que representam cerca de 80% das emissões", lembrando aos países desenvolvidos o seu compromisso (até agora não cumprido) de disponibilizar "100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático, em apoio aos países em desenvolvimento".
No entanto, alcançar um mundo sustentável também requer mudanças no estilo de vida dos indivíduos.
Comer mais verduras, economizar energia, plantar árvores e optar por caminhar, pedalar ou usar o transporte público são medidas concretas que, segundo especialistas, fazem a diferença.
Em outras palavras, alcançar o desenvolvimento sustentável é possível e necessário, mas não é fácil. Como disse a ativista sueca Greta Thunberg, em um discurso antes da COP26 que se tornou viral: "A esperança não é blá blá blá. Esperança é dizer a verdade. A esperança é agir.",
Fonte: BBC News Brasil.
Disciplina
RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL
Na Figura 1, podemos visualizar que a parte em verde são as chamadas zonas seguras, em que temos o espaço operacional seguro; em laranja, as zonas de risco crescente, com alto potencial de efeitos prejudiciais; e em vermelho, as zonas de risco alto, nas quais os limites foram ultrapassados e estamos sujeitos a consequências imprevisíveis. Percebemos que a humanidade já ultrapassou quatro dos limites estabelecidos: mudanças climáticas; integridade da biosfera (perda de biodiversidade); uxos bioquímicos de nitrogênio e fósforo; e, mais recentemente, as mudanças no uso da terra (solo). Esses são desaos que estão postos no tabuleiro global, a demandar a atuação de todas as instituições internacionais e nacionais. Nota se, assim, que a observância dos limites planetários é uma das exigências para que as crises provocadas pela Grande Aceleração não conduzam o sistema Terra a uma situação de irreversibilidade.
Os principais efeitos do Antropoceno nas dinâmicas econômica e social
Diante desse cenário, para o enfrentamento das questões que se apresentam no Antropoceno, é imprescindível repensar os meios de produção e os padrões de consumo em sociedade, que afetam decisivamente os processos ambientais e, por consequência, as dinâmicas de regulação do sistema Terra. Se, em sentido amplo, é essencial uma conjugação de políticas e estratégias por diversos atores globais – instituições governamentais, setores empresariais e organismos multilaterais –, na escala da proximidade (quotidiano) é preciso destacar o exercício de uma ética da responsabilidade, por meio da conscientização ecológica para a compreensão da nitude dos recursos naturais e o repensar das relações de consumo. Não há dúvidas de que dispomos de tecnologias cada vez mais avançadas e que podem ser muito importantes no contexto das crises. Mas as tecnologias, sem a mudança de consciência pública e individual, e sem a percepção do próprio ser humano de que ele e natureza constituem um todo, podem não ser su cientes para lidar com a questão demográ ca e o aumento da poluição (Odum, 2001).
Um dos intentos que contribui no processo de tomada de consciência é um indicador criado que nos permite conhecer os impactos das nossas atividades sobre o planeta. Trata-se do conceito de pegada ecológica – elaborado pela entidade Global Footprint Network – que é uma unidade métrica que estabelece uma equação entre a demanda de recursos utilizados por pessoas, empresas e governos e a capacidade de regeneração biológica do planeta. A pegada ecológica mede o quanto de área de terra (hectares) e água são requeridos para o consumo e para a absorção dos resíduos sólidos gerados (WWF, 2020).
Muitos países estão em situação de dé cit ecológico, isto é, usam mais recursos naturais pegada ecológica – que seus ecossistemas podem regenerar – biocapacidade – como é o caso dos Estados Unidos, China, Índia, Israel, Japão e a União Europeia. Com o aumento desse dé cit em nível global, temos o que é chamado de “capacidade de carga” do planeta, que é a sobrecarga no consumo de seus recursos. Desde a década de 1970, a capacidade de carga do planeta tem sido ultrapassada com sérios riscos para a dinâmica ambiental. Uma das representações usadas para demonstrar o limite da capacidade de carga do planeta é determinar o dia em que ele ocorre Disciplina
RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL
em cada ano. No ano de 2022, ela foi atingida no dia 28 de julho (WWF, 2022). A partir de então, estamos em dé cit. Em uma analogia, entramos no “vermelho”, consumindo mais do que o planeta pode suportar. Por esse parâmetro, para atender aos níveis de utilização dos recursos ambientais atuais, é demandado o equivalente a 1,75 do planeta (WWF, 2022). No caso do Brasil, a capacidade de carga foi atingida em 12 de agosto de 2022 (WWF, 2022). Isso se dá, em boa medida, pelo aumento do desmatamento na Floresta Amazônica e das queimadas nesse e em outros biomas brasileiros, como o Cerrado e o Pantanal.
De tudo que foi estudado, é necessário compreender que a era do Antropoceno é uma realidade e que devemos estar preparados para o enfrentamento de seus efeitos em nossas atividades econômicas e cotidianas. Ainda que a atuação no nível individual ou de pequenos grupos seja restrita, isso não é um obstáculo para que possamos compreender o imperativo do exercício da ética da responsabilidade em todos os campos da atividade humana, tanto prossional quanto cidadã, porque não há dissociação entre eles. Anal, o que está em risco é a construção da sociedade e dos predicados da vida. Esse é o desao do nosso tempo.
Vamos Exercitar?
Conforme discutido anteriormente, o termo Antropoceno, refere-se a uma nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra, em que a humanidade se transformou em uma força geológica capaz de alterar as condições de sustentação da vida.
E agora, você, como futuro pro ssional, começa a compreender, questionar e se preparar para os desaos desse novo tempo. Para auxiliar esse avanço, vamos elucidar algumas questões importantes sobre essa temática:
Qual foi o preço do Antropoceno e como isso afetará a minha vida?
O Antropoceno ocorre atrelado à modernidade urbano-industrial. Temos um ponto-chave da expansão do Antropoceno, a Revolução Industrial e energética, a qual deu início ao uso generalizado de combustíveis fósseis (carvão mineral) e à produção em massa de mercadorias e meios de subsistência. Como consequência, houve uma rápida expansão das atividades antrópicas. Todo esse processo expansionista gerou efeitos incomparáveis: em 250 anos, a economia global cresceu 135 vezes, a população mundial cresceu 9,2 vezes e a renda per capita cresceu 15 vezes. Esse crescimento demoeconômico foi maior do que o de todo o período dos 200 mil anos anteriores, desde o surgimento do Homo sapiens.
Entretanto, todo esse avanço gerou consequências extremamente negativas ao meio ambiente. Nossas atividades ultrapassaram a capacidade de carga da Terra, e a Pegada Ecológica da humanidade extrapolou a biocapacidade do planeta. Tal cenário ainda não parece mudar. A cada dia, a dívida do ser humano com a natureza continuação a crescer e a degradação ambiental pode, no limite, destruir a base ecológica que sustenta a economia e a sobrevivência humana.
Disciplina
RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL
Saiba mais
Nesta aula discutimos a hipótese do Antropoceno. Sob esse contexto, é proposto que as atividades humanas alteraram consideravelmente a dinâmica do planeta, congurando uma nova época geológica. Para auxiliar na compreensão das de nições do Antropoceno, leia o artigo O que é o Antropoceno e por que esta teoria cientí ca responsabiliza a humanidade. Além disso, podemos compreender que o avanço das atividades humanas está alterando drasticamente a dinâmica no planeta. Entre os pontos destacados, está o aquecimento global, aumento da temperatura média dos oceanos e da camada de ar próxima à superfície da Terra, que pode ser consequência de causas naturais e atividades humanas. Para saber mais sobre essa temática, leia a matéria As Mudanças Climáticas, e Antropoceno: a era do colapso ambiental, e entenda quais os principais fatores associados às mudanças climáticas e ao aquecimento global. Outro ponto de relevância que abordamos nesta aula é uma das principais métricas para conhecer e compreender o impacto das nossas atividades no planeta, a Pegada Ecológica. Mas será que você sabe qual é a sua pegada? Para conhecê-la, acesse Pegada Ecológica e faça o teste usando a calculadora da contabilidade ambiental, que re ete as nossas condutas sobre o planeta. Além de interessante, o resultado nos ajudará a compreender a nossa responsabilidade no Antropoceno.
Referências ALVES, J. E. D. Antropoceno: a era do colapso ambiental. Disponível em: q=node/1106. Acesso em: 17 out. 2023.
COSTA, A. Antropoceno: desmandamentos gravados em rocha. In: Antropoceno à idade da terra, v. 1. Rio: Machado, 2023.
COSTA, F. https://cee. ocruz.br/? Os mil nomes de Gaia: do Tecnoceno: algoritmos, biohackers y nuevas formas de vida. Buenos Aires: Taurus, 2021.
CRUTZEN, P.; STOERMER, E. The “Anthropocene”. Global Change Newsletter, v. 41, 2000, p. 17-18.
DIA de sobrecarga da terra. WWF. Disponível em: Acesso em: 17 out. 2023.
IPBES. https://www.wwf.org.br/overshootday/. Resumo para formuladores de políticas do relatório de avaliação global sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos da plataforma intergovernamental de políticas cientí cas sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos. Bonn: IPBES Secretariat, 2019. Disponível em: https://ipbes.net/assessment-reports/americas . Acesso em: 17 out. 2023.
Disciplina
RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTA
L IPEA. Um exame dos padrões de crescimento das cidades brasileiras. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_1155.pdf. Acesso em: 17 out. 2023.
GLOBAL FOOTPRINT NETWORK. Ecological footprint per person. In: biocapacity accounts 2022 edition. Disponível em: National footprint and https://data.footprintnetwork.org/#/. Acesso em: 17 out. 2023.
MOORE, J. W. Anthropocene or capitalocene? Nature, History, and the Crisis of Capitalism. Los Angeles: Kairos, 2016.
ODUM, E. P. Fundamentos de ecologia. 6. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.
O QUE é o Antropoceno e por que esta teoria cientí ca responsabiliza a humanidade? National Geographic Brasil, jan. 2023. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2023/01/o-que-e-o-antropoceno-e-por-que esta-teoria-cienti ca-responsabiliza-a-humanidade
UNESCO. Correio da Unesco: um glossário para o antropoceno. In: Bem-vindo ao Antropoceno, v. 2, abr.-jun., 2018. Disponível em: https://pt.unesco.org/courier/2018- 2/um-glossario-o antropoceno. Acesso em: 17 out. 2023.
VEIGA, J. E. da. O Antropoceno e a ciência do sistema terra. São Paulo: Editora 34, 2019. WWF. Índice planeta vivo 2020: reversão da curva de perda de biodiversidade. In: Almond, R. E.; Grooten, M.; Petersen, T. (eds.) Gland:
WWF, 2020. Disponível em: https://f.hubspotusercontent20.net/hubfs/4783129/LPR/PDFs/Brazil%20FINAL%20summary.pdf . Acesso em: 17 out. 2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário